Enfermeiros e médicos vão às ruas de Goiânia a bordo de Kombi para atender moradores sem teto

Goiânia inaugura oficialmente nesta quinta-feira (7) esta semana uma modalidade de atendimento para os moradores de rua: são os chamados "consultórios de rua", equipes formadas por profissionais da área da saúde que vão às ruas descobrir e tratar os moradores sem teto.

07.04.2011

Goiânia inaugura oficialmente nesta quinta-feira (7) esta semana uma modalidade de atendimento para os moradores de rua: são os chamados “consultórios de rua”, equipes formadas por profissionais da área da saúde que vão às ruas descobrir e tratar os moradores sem teto.


O projeto, da Secretaria Municipal de Saúde da prefeitura, começou em fevereiro e conta com quatro psicólogas, uma enfermeira, um médico e um professor de educação física, que circulam pela cidade em uma Kombi com o nome do projeto. Os atendimentos acontecem em locais onde vivem os sem teto, como calçadas e bancos de praça. Em alguns casos, sempre com a permissão do atendido, são realizados curativos.


Na kombi, os profissionais contam com prontuários e materiais para curativos e primeiros socorros. Não há macas — quando há necessidade de atendimentos mais complexos, os moradores são levados para as unidades de saúde da rede municipal.


O trabalho acontece em locais e dias alternados. Na terça-feira, das 19h às 24h, a equipe percorrerá o perímetro entre a praça do Trabalhador e rodoviária, no centro de Goiânia. Na quarta-feira, das 8h às 12h, o local visitado é a praça da Igreja Matriz, no bairro de Campinas. O terminal de ônibus Padre Pelágio, no bairro Capuava, na região do Mendanha, recebe a equipe na quinta-feira, das 21h às 2h da madrugada, e na sexta-feira, no período vespertino.


Estes pontos são considerados estratégicos porque regiões concentram moradores de ruas. O terminal é um ponto conhecido de prostituição e tráfico de drogas, além de ser um local de passagem e acesso às periferias. O eixo entre rodoviária e Praça do Trabalhador está no centro da cidade, onde há grande circulação de sem teto. A praça da Igreja Matriz de Campinas também atrai os moradores porque tem espaço para banhos e bancos na praça.


Na quarta-feira (6), a equipe atendeu a população na praça da igreja Matriz do bairro de Campinas. Em menos de meia hora no local, cerca de 15 moradores de rua conversaram com os profissionais. Cícero, 50, diz que o projeto trouxe alegria para a sua vida. “Ficamos felizes em poder conversar com eles”, disse ele, que é natural da Bahia e vive em Goiânia há 30 anos.


Desde o início do projeto, em fevereiro, já foram abertos 187 prontuários e encaminhamentos para os serviços de saúde e assistência social. O trabalho já detectou 300 pessoas vivendo em situação de risco nas regiões central e de Campinas.


Problemas mais comuns


A maioria dos moradores possui ferimentos pelo corpo, balas alojadas e até ossos quebrados. Problemas bucais também estão no topo das reclamações. Há casos de desnutrição grave e contaminações por doenças sexualmente transmissíveis.


Juliana, uma adolescente que estava com uma fratura no braço há mais de quatro dias, disse só ter chegado ao hospital com o apoio da equipe.


“Encontramos pessoas que sofrem dores por anos a fio e não conseguem ter acesso aos serviços de saúde”.


A coordenadora da Divisão de Saúde Mental da prefeitura, a psicóloga especialista em saúde mental Heloiza Helena Massanaro, afirma que a proposta do consultório de rua criar um vínculo com os moradores de rua. “Eles têm dificuldades de chegar até os serviços porque estão confusos e nem sempre são bem-recebidos. A nossa estratégia é justamente criar um vínculo, a partir da abordagem compreensiva e respeitosa, no local em que a pessoa vive”, afirma.
A partir de maio, profissionais da prefeitura de Goiânia, vão acompanhar a equipe do Consultório de Rua também para realizar testagens rápidas de contaminação por Aids e vacinação contra outras doenças. Além disso, um grupo formado por três “redutores de danos”, profissionais que têm experiência em álcool e outras drogas, passará a integrar o projeto.


Maioria de adultos usuários de drogas


Entre os moradores mapeados, desde fevereiro, a maioria é composta por homens na faixa etária adulta, usuários de álcool e drogas. Entre crianças e adolescentes, o crack é a principal droga consumida.


Para o médico psiquiatra Lourival Belém Júnior, especialista em álcool e outras drogas, ao oferecer disponibilidade de escuta e compreensão, os profissionais podem ter recursos para reduzir os danos provocados pelas drogas. “O princípio da liberdade é fundamental em qualquer atendimento de saúde, principalmente quando o foco é um público marginalizado e desconfiado, que está vulnerável a todo tipo de agressão física e psicológica. E o consultório de rua oferece isso, a radicalização do processo de humanização da saúde, onde o profissional não apenas escuta, ele está aberto para ir até a pessoa, independente do local”, diz.

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