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Amamentação ajuda a traçar mapa da poluição

Presença de substâncias tóxicas pode ser medida pela qualidade do leite materno. Inventário no país deve ser concluído em 2012Carlos Tavares

08.11.2011

Presença de substâncias tóxicas pode ser medida pela qualidade do leite materno. Inventário no país deve ser concluído em 2012

Carlos Tavares

Eles chegam em silêncio e muitas vezes são invisíveis, sem cheiro ou cor. Alastram-se de mansinho como uma praga dos novos tempos e deixam, em geral, um longo rastro de mortes e doenças das mais graves. Matam com o acúmulo de seus resíduos depositados, sobretudo, no tecido adiposo de homens e animais. Debilitam fauna e flora e agridem mananciais, mas ainda assim são fabricados, vendidos, usados e defendidos por empresários, políticos e representantes de vários setores da sociedade. Normalmente, por interesse econômico. Esses agentes do mal, contudo, podem estar com os dias contados. Em março de 2012, será concluído o primeiro grande inventário do país sobre fontes de emissão de poluentes orgânicos persistentes (POPs) – substâncias tóxicas impregnadas na terra, no ar e nas águas brasileiras.

Não se trata, em um primeiro momento, de procurar culpados ou banir do território brasileiro os famosos e perigosos POPs, que entraram para valer na pauta de preocupações do governo brasileiro nos últimos 10 anos. “A ideia é identificar o uso dos poluentes, as fontes de emissão e os problemas que eles causam ao país”, explica a química e doutora em saúde pública Sérgia Oliveira, diretora de Controle de Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Serão analisados 21 poluentes orgânicos. Catorze deles foram banidos há algum tempo e sete ainda são permitidos.

A montagem do mapa da poluição no país levará em consideração os resultados de uma primeira pesquisa feita pela Fiocruz, com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 2001/2002, como parte de um compromisso assumido pelo Brasil – e 27 países – com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas (ONU), durante a Convenção de Estocolmo, em 2001.

A convenção foi estabelecida para que os países signatários iniciassem um levantamento das emissões de substâncias tóxicas a fim de minimizar as fontes prejudiciais à saúde – até a eliminação e o banimento dos produtos, em um momento posterior.

“Padrão ouro” Para medir os índices de poluição na natureza e saber até que ponto a saúde do brasileiro está ameaçada -, a Fiocruz escolheu como matriz de avaliação dos resíduos e do grau de poluição o leite materno (veja infografia). “Entre o ar e o sangue, a melhor resposta vem do leite humano”, afirma a química e especialista em saúde pública Ana Braga, da Fiocruz, que coordena a pesquisa.

Os resíduos desses poluentes têm uma afinidade muito próxima com tecidos adiposos (gordura) e não há melhor matriz, de acordo com os técnicos, para avaliar os índices de poluição que o leite materno. Além do mais, segundo a pesquisadora, “com essa fonte de pesquisa, não é necessário fazer exames invasivos, como biópsias, para analisar tecidos adiposos e os resultados com o leite são muito mais confiáveis”.

Os POPs que serão alvos das análises estão nos grupos dos agrotóxicos, das dioxinas e dos furanos, além de poluentes industriais e retardantes de chamas. “A preocupação maior do ministério é com as dioxinas (e os furanos) porque elas estão presentes na natureza e não precisam ser fabricadas. Basta queimar lixões ou pneus a céu aberto, incinerar resíduos de saúde ou queimar combustíveis.”

O estudo dos POPs em leite humano no Brasil será feito a partir da coleta do produto em 15 estados, com 150 amostras, ao todo, extraídas de um grupo de 10 mães em cada uma dessas unidades da Federação. Segundo os critérios de seleção do programa, definidos pela OMS, as doadoras têm de ser mães jovens, primíparas (que tiveram o primeiro filho) e saudáveis. Conforme Ana Braga, “as mães de primeira viagem oferecem um padrão de qualidade muito mais adequado do que o leite de mães com quatro, cinco filhos”.

Modelo brasileiro

No contexto da Convenção de Estocolmo, o Brasil é considerado um modelo a ser seguido em termos de metodologias e critérios de avaliação dos poluentes orgânicos. A equipe coordenada pela Fiocruz, por exemplo, elaborou um guia de condução dos trabalhos que vem sendo usado em outros países da América Latina e do Caribe envolvidos no programa. As mães doadoras já foram selecionadas, as equipes estão sendo montadas e treinadas e, dentro de seis meses, os primeiros resultados poderão ser divulgados.

Na Universidade de Brasília (UnB), o químico e professor de nutrição da Faculdade de Medicina José Garrofe Dórea, especialista em análise de produtos neurotóxicos, explica que, mesmo no fim da cadeia alimentar, não há agravos na saúde de crianças em amamentação. “É preciso entender que os danos causados pela poluição já foram feitos na gravidez e que a amamentação serve para aplacar esses reflexos. O leite humano faz com que problemas de neurotoxicidade ou danos no sistema imunológico do bebê sejam atenuados.”

Conforme o professor da UnB, a arquitetura das defesas da criança récem-nascida depende do leite materno. “Mesmo que se encontrem resíduos de POPs no leite da mãe, ela tem de amamentar.” Ele explica que, depois que a criança nasce, formam-se as barreiras mamárias: “Alguns desses poluentes passam com muita dificuldade, outros não. Os organoclorados, por exemplo, os pesticidas, só passam na gordura, mas não na fase líquida do leite”. Segundo Dórea, o mais importante é que o leite materno está dizendo o quanto a sociedade está poluída.

Fonte:
Estado de Minas

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