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Morre Michel Odent, francês que revolucionou a assistência ao parto

Em seu sonho de mudar o mundo, um nascimento por vez, Michel Odent participou do renascimento do parto no Brasil

21.08.2025

Michel Odent seguia ativo. “Fico feliz que Michel tenha partido assim como merecia lúcido e ativo, fazendo sempre novas perguntas”, diz Heloísa Lessa

O francês Michel Odent (1930-2025), referência em parto natural, morreu serenamente, aos 95 anos, em Londres. O obstetra tinha forte ligação com o Brasil e com o movimento internacional pela humanização do parto. 

Descrito pela revista Lancet como “um dos últimos cirurgiões gerais de verdade”,  Michel dirigia um hospital público francês quando, no final da década de 1960, introduziu o conceito de ambiente natural para o parto, similar ao conforto de casa, banheira para o alívio da dor e redução das intervenções externas. “Para mudar o mundo é preciso primeiro mudar a forma de nascer”, afirmava Michel, primeiro a descrever a ocitocina, liberada durante o parto, como “droga do amor”.

“Meu  primeiro contato com Michel Odent foi  em 1999 por carta, correio mesmo”, relata a enfermeira obstétrica Heloísa Lessa, amiga e parceira de trabalho no Brasil. “Eu tinha começado a realizar partos domiciliares planejados e sabia da importância dele, pioneiro no ajuste do ambiente como facilitador do parto. Imaginem minha alegria!  Eu pulava de alegria! Ali começou uma parceria que me fez compreender que a base de tudo é a possibilidade da mãe desligar o neocórtex para se permitir seu corpo ser o comando”, relata Heloísa, que integra a Câmara Técnica de Enfermagem em Saúde da Mulher do Cofen.

“No II Congresso de Ecologia do Parto e Nascimento, que realizamos na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em 2022, com apoio do Cofen e muitas instituições, trouxermos indígenas de Iaueretê para contarem como tinham os bebês naquela região. Michel fez uma palestra sobre as necessidades básicas das mulheres em trabalho de parto. Foi uma palestra linda. No final do Congresso, perguntei a elas o que tinha sido mais importante na viajem. O avião, conhecer o mar? A resposta: ficamos felizes pois pela primeira vez um homem branco sábio falou que o jeito que usamos para ter os bebês é o melhor!”

“Michel seguia trabalhando no computador. Na pandemia, descobriu o zoom e se encantou com a possibilidade de estar no mundo todo sem sair de casa. Nos falávamos regularmente. Recentemente, nos falamos e ele me contava estar cheio de ideais e muito trabalho. Fico feliz que Michel tenha partido assim como merecia, lúcido e ativo, fazendo sempre novas perguntas”, diz Heloísa

Mudando o mundo, um nascimento por vez

Michel Odent, em visita a Florianópolis. Obstetra tinha ligação forte com o movimento brasileiro pela humanização do parto

Provocativo, Michel lançava questões como Pode a humanidade sobreviver à Medicina?, título de um dos seus livros publicado no Brasil. Foi um enfático defensor da assistência qualificada de Enfermagem obstétrica e de uma conduta expectante, respeitando a fisiologia do parto e o vínculo mãe-bebê. Nos últimos anos, vinha se dedicando a combater a hemorragia, uma das principais causas de morte materna, juntamente com  hipertensão gestacional. Em 2017, ele recebeu o título de doutor honoris causa pela Universidade de Brasília (UnB).

Nessa tentativa de mudar o mundo, um nascimento por vez, Michel participou da transformação do cenário dos nascimentos no Brasil. “Michel sempre enfatizou a questão do ambiente seguro, da baixa luminosidade, a importância da mulher se sentir bem, sem interferências. Ele trouxe para a Enfermagem a importância da atuação como suporte respeitoso, garantindo o protagonismo da mulher, evitando intervenções desnecessárias. A Enfermagem aprendeu muito com ele e se hoje temos a Enfermagem obstétrica, principalmente no Brasil, como ativista da humanização do parto, isso se deve também aos estudos de Michel Odent”, reforça a enfermeira obstétrica Tatiana Melo.

Três em cada dez brasileirinhos nascidos em partos normais em 2024 foram assistidos por enfermeiras. A tendência é mais forte nas capitais. Em São Paulo (53,7%), Goiânia (52,9%). Fortaleza (51,3%), mais da metade dos partos normais foram assistidos por enfermeiras em 2024, índices superiores ao interior dos estados, segundo dados do SINASC/Ministério da Saúde. Em 2019, o índice na cidade de São Paulo era de 47,3%. Em Fortaleza e Goiânia, não chegava a 23%.

Em 2021, a Justiça Federal reafirmou a legalidade do parto domiciliar e a qualificação das enfermeiras obstétricas para o atendimento, pondo fim a ofensiva judicial do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro contra Heloísa e Halyne Pessanha.   

Amamentação

Em lugar de flores, os familiares sugeriram que sejam feitas doações para a Liga do Leite, organização internacional que promove a amamentação. Michel faleceu na terça, 18/9, e será cremado em cerimônia íntima, segundo informação publicada hoje por seu editor.

“Quando Michel afirmou pela primeira vez, numa conferência, que os bebês podiam mamar imediatamente após o parto, metade da plateia levantou e foi embora”, conta Heloísa Lessa. Hoje, a amamentação na primeira hora de vida é uma recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) e integra as diretrizes de assistência no Brasil.

 

Fonte: Ascom/Cofen - Clara Fagundes

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